Casos Clínicos

Dificuldade em demonstrar sentimentos

Escrito em 30 de abril de 2018 por

I – Resumo da Anamnese

Paciente:
Sexo: Masculino
Idade: 27 anos
Nacionalidade: Brasileiro
Estado civil: solteiro

II – Queixa e Duração

Não querer assumir  liderança e posições de destaque tendo encontrado dificuldades. Sente-se bem quando o grupo atinge a meta, pensa muito no trabalho antes de executar, quer perfeição, se não atingir sente-se desconfortável, e assim perde a tranqüilidade, fica inquieto, a mãe percebe e diz parecer estar no mundo da lua. Sente medo de influenciar as pessoas. “Tenho  medo que a coisa vai crescer tomar proporções maiores”. Diz sentir-se como uma pessoa mais velha com grande conhecimento, e quando esse conhecimento começa a aparecer ele bloqueia. Quer levar adiante esse comportamento de assumir a liderança com segurança, sente-se mais inseguro quando percebe que as pessoas confiam nele. Programa tudo o que vai fazer e falar assim sente-se seguro, não se permite errar, mais no dia a dia sente-se inseguro por não poder programar os acontecimentos, quando erra não se sente bem, fica com raiva dele mesmo e sente dor de cabeça. Queixa-se de não saber lidar com a afetividade, não consegue demonstrar os seus sentimentos, sente-se bloqueado, diz ter a sensação de estar preso. Esse sentimento começou desde criança, lembra-se de que tinha sonhos e depois as coisas se realizavam.

Tema  trabalhado:  Dificuldade de demonstrar sentimentos.

Primeira Regressão

07/12/1998

T – O que você está vendo, ouvindo , sentindo ou Intuindo?
P – Não há sentimento, vazio, como se o importante é só preocupação c/ as pessoas não há espaço para mim.
T – Continue.
P – É preciso trabalhar, não sei descrever, é como se as pessoas perdessem tempo, preciso direcioná-las.
T – E então.
P – Estou andando sozinho, olhando as casas, questionando sobre as pessoas viver por viver.
T – Ok. e o que sente neste momento.
P – Estou bem, me sinto bem.
T – Quem é você, que idade você tem?
P – Sou um homem de 30 anos andando simplesmente por esse lugar.
T – Que lugar é este.
P – Tem ruas estreitas, é uma tarde. Sinto tristeza pelas pessoas
T – Então sinta aprofunde  nesse sentimento. O que mais você percebe?
P – Não sei se as pessoas me respeitam ou não entendem
T – O que não entendem
P – Não sabem trabalhar as idéias.
T – O que mais você percebe?
P – Sinto raiva, não consigo compreender
T – Então sinta essa raiva, mergulhe nesse sentimento. E daí o que pensa no momento em que sente essa raiva.
P – Me vejo em casa sozinho, com raiva, eu me isolo, preciso pensar em Deus, raiva das pessoas. Elas não compreendem e aceitam, eu não aceito as coisas, tenho mãe e família, mais sou muito mais do que isso: Se pode ser mais do que isso.
T – Mais o que? Prossiga.
P – Não sai disso, é muito forte.
T – Então regrida, vá para o momento da sua concepção desta vivência.
P – É estranho, eu penso em mim não sinto meu corpo, sinto segurança.
T – Continue de 3 em e meses perceba se ocorre algum fato marcante ligado ao tema que você esta trabalhando hoje .
P – Tudo Ok
T – Então vá para o momento do seu nascimento sinta-se nascendo, perceba como está sua mãe e você, perceba se tem mais alguém com você nesse momento.
P – Sinto que o momento é meu, me sinto egoísta, não penso nela, só em mim me sinto muito bem.
T – Continue perceba o que mais você sente, perceba o que houve.
P – Me vejo com a mãe.
T – Continue. E então como se sente?
P – Neutro o sentimento em relação à mãe.
T – Continue avance na cena?
P – A casa é estranha é como se eu não fosse daqui
T – Como assim o que você sente?
P – Deslocado
T – E então?
P – Mais nada
T – Que sentimentos isso lhe traz?
P – Frustração.
T – Prossiga na cena, e o que mais?
P – Mais nada
T – Então avance de 1 a 10 anos o que acontece relacionado ao tema.
P – Sou meio fechado como se eu sentisse mais do que os outros.
T – De que forma?
P – Sinto carinho, vontade de abraçar meus irmãos, mais não faço.
T – O que te impede de abraçar seus irmãos.
P – Receio a sensação, é muito grande como se eu pudesse protegê-los direcioná-los. Não seria um simples abraço é muito mais para uma criança.
T – Este sentimento está presente hoje?
P – Sim
T – Em que momentos
P – Não sei acho que em todos que estou me expondo.
T – Então continue 10 -20 aos
P – Estou em casa tenho quatro irmãos, me fecho ainda mais, me sinto em conflito é como se eu olhasse para o céu e tentasse explicar é difícil falar.
T – Falar o que?
P – Me vejo em conflito com algo que não conheço
T – Vivencie esse conflito, perceba, sinta aprofunde-se e daí?
P – Foi o batismo, não gosto, as pessoas conversando é a igreja o próprio culto a Deus, não gosto me vejo chorando, não quero estar lá, meu padrinho sai para comprar balas, tenho cinco anos.Ele é muito bom, é a igreja o lugar não é ruim as pessoas que transformaram o lugar.Lembro mãe ensinando eu e meu irmão a rezar, me sinto colocado frente a frente, me sinto responsável, não é solicitar a Deus é senti-lo de verdade.

Redecisão

“Demonstro meu afeto e me sinto seguro com isso”

2ª Regressão

21/12/98

T- O que você está vendo, ouvindo , sentindo ou Intuindo?
P – Só sinto minhas pernas um pouco diferentes.
T – Como assim?
P – O meu corpo está normal e minhas pernas pesadas. É dia, estou só.   Estou numa cama.
T – Como se sente?
P – Parece grande. Sinto-me bem.
T – Prossiga na cena que lugar é esse?
P – É minha casa.
T – E daí o que está acontecendo, prossiga.
P – Estou sozinho, sou homem, é como se eu precisasse de alguém.
T – Como assim, perceba de quem você precisa?
P – Alguém me ajuda, para me locomover, alguém que trabalha em casa.
T – Avance na cena perceba como se sente?
P – Eu não me sinto mal.
T – Continue e perceba o que acontece?
P – Eu vejo uma bicicleta, estou andando, me sinto bem. Eu estudo biologia sou jovem.
T – Continue, prossiga na cena.
P – Hospital, me vejo lá trabalhando, cuidando das pessoas. Elas confiam em mim.
T – Continue, prossiga na cena.
P – Algo deu errado, alguém se prejudicou.
T – O que deu errado, como se sente?
P – Culpa sinto culpa, alguém morreu, um paciente, o experimento, é algo novo e ele morre. Toda minha vida me dediquei a essas pessoas. O que está errado, eu não sei o que pensar. Quero ficar sozinho, não faço mais nada.
T – E daí o que acontece?
P – Me vejo mais velho, 70 anos, me sinto cansado, só quero descansar, tranqüilidade.
T – Vá para o momento de sua morte e vivencie.
P – Fui um bom médico, que errei, na minha ousadia, nunca esquecerei isso.
T – O que você sente nesse momento?
P – Culpa
T – Hoje esses sentimentos e pensamentos estão presentes?
P – Sim, hoje me sinto inseguro, como posso ousar novamente, eu não fiz sozinho, mais porque deixaram eu tomar a iniciativa, eu fiz muitas coisas boas, por que eu errei?
T – Neste momento que vivencia sua morte física, perceba para onde vai, ou é levado, perceba se existe algo importante, ligado a sua dificuldade atual que precisa vivenciar.
P – Estou mais calmo, é como se eu aprendesse a valorizar mais a vida humana. Estou vendo a pessoa que morreu, ele me pega na mão e me agradece. Estou em paz.
T – Algo mais de significativo nesse espaço?
P – Não.
T – De tudo o que você vivenciou nessa sessão qual foi o momento mais traumático, o momento mais marcante para você?
P – A cirurgia
T – Vivencie novamente esse momento mais traumático, e perceba qual o primeiro pensamento que lhe vem?
P – A pessoa está inconsciente é uma cirurgia na cabeça, algo sai errado, meus colegas esperam uma decisão minha, não sei o que fazer, estou perdido, perdido. Tenho que me controlar, eu me ajoelho no chão, eu perdi o paciente. Sinto culpa.
T- Mergulhe nesse sentimento, perceba o que está pensando neste momento.
P- Está tudo acabado, eu errei, eu não quero mais continuar, acabou tudo! E hoje porque as pessoas continuam confiando em mim?
Vai começar tudo de novo. E eu tive que ir trabalhar num hospital.
T – Você quer redecidir  sobre isso?
P – Sim.
T – Faça a sua redecisão.
P – Eu tenho medo de que as coisas vão crescer. Ele me prejudica, porque eu me fecho me sinto inseguro.
T – Você quer mudar isso?
P – Sim. Mais preciso pensar.
T – Então faça sua redecisão.

Redecisão

“Desenvolvo a  humildade e me sinto seguro”

3ª Regressão

18/01/99

T –  O que você está vendo, ouvindo , sentindo ou Intuindo?
P – Uma criança, sou eu, estou em casa três anos, estou sentado, olhando para a casa, me sinto bem.
T – Continue o que acontece?
P – Eu quero ver o meu pai.
T – E você vê sim ou não?
P – Ele está trabalhando, eu quero estar com ele, quero brincar com ele, eu gosto muito dele. Tem empregados na casa. Vejo outras crianças são meus amigos, estamos brincando, eu me sinto meio deslocado já estou mais velho sete anos.
T – Qual o motivo de se sentir deslocado?
P – Eu acho boba a brincadeira, eles continuam e eu fico só olhando. Saio de perto deles. Quero estudar. Não tenho mãe, nem irmãos.
T – Como se sente?
P – Quero ver minha mãe, sinto falta dela.
T – Que sentimento está experimentando nesse momento?
P – Não é culpa minha, não sei por que penso isso.
T – Perceba o que te leva pensar assim?
P – Vejo a mãe morrendo, após o parto, no hospital. Eu não queria que isso acontecesse.
T – Volte e vivencie o momento do seu nascimento e perceba o que acontece.
P – Silêncio grande eu saio dela, não a vejo mais. Vejo-me com o pai, me sinto bem, mais ele sente a falta dela. Ele me abraça.
T – Como se sente?
P – Bem!
T- Avance até dez anos de idade perceba o que acontece de significativo?
P – Estou com cinco anos me vejo naquela sala brincando, sinto falta da minha mãe. Pai não gosta de conversar sobre minha mãe, eu sinto falta dela.
T – E daí, continue.
P – Vejo novamente mãe morrendo, me sinto no sétimo mês, ela sente dores, vejo o pai preocupado. Ela não quer demonstrar, sinto culpa.
T – Então sinta esta culpa, vivencie que pensamento você tem neste momento?
P – Me sinto só eu a perdi.
T – Sinta esta solidão, vivencie, aprofunde-se.
P – Não queria que fosse assim.
T – Continue
P – Me vejo aos dez anos estudando muito.
T – Continue dos dez aos vinte anos perceba o que acontece de significativo.
P – Sempre sinto a falta dela.
20 – 40 anos – Me vejo trabalhando, mais tudo bem.
40 – 50 – 60 anos – Tudo bem
69 anos mesma casa sozinho me sinto morrendo, e sinto que errei novamente tenho a sensação que falhei nos meus estudos.
T – Este sentimento está presente hoje?
P – Sim, eu tenho medo de errar.
T – Em que situações, em que momentos você sente este medo?
P – Quando eu estou responsável por pessoas.
T – De tudo o que você vivenciou nessa sessão qual foi o momento mais traumático, o momento mais marcante para você?
P – O rosto da minha mãe.
T – Então vivencie novamente este momento.
P – Eu vejo seu rosto logo após meu nascimento, sinto medo de perder minha mãe.
T – Então vivencie este  medo, sinta aprofunde-se. Qual a relação com o tema que está trabalhando?
P – Medo de me envolver e perder. Eu não me envolvo não me permito sentir tenho medo de perder.

Redecisão

“Me permito sentir afeto pelas pessoas”

4ª Regressão

01/02/1999

T- O que você está vendo, ouvindo , sentindo ou Intuindo?
P- Um mercado
T- O que esta acontecendo?
P – Estou passando com meu pai, vamos para o centro do meu bairro.
T – Como se sente?
P – É muito agitado aqui.
T – E como se sente sendo agitado ai?
P – Acho interessante a vida das pessoas, tem um homem vestido de palhaço brincando com as crianças, distribuindo balas, meu pai para mais eu não gosto dele.
T – O que sente?
P – As brincadeiras me desagradam, muito infantis, eu quero ir embora.
T – E daí?
P – Eu não digo nada, quero chutar ele, mais não faço isso, não quero constranger meu pai.
T – Que sentimentos você  experimenta neste momento?
P – Eu quero vê-lo com raiva aí a fantasia acaba, é boba demais é ingênua demais, vamos embora mais ele não sai da minha cabeça, queria desmascará-lo.
T – De que maneira você quer desmascará-lo?
P – Deixando ele com raiva, acho que as crianças estão sendo iludidas.
T – Quantos anos você tem?
P – Sete anos.
T – Continue
P – Estou na escola no pátio vendo as crianças brincarem, eu olho um menino não conheço mais ele tem problema, fica parado olhando para o vazio sem se mexer, eu quero saber o que se passa com ele, mais não chego até ele.
T – Por qual motivo não chega?
P – Acho que as crianças e a professora não vão gostar, eu temo que minha atitude não seja aceita é como se eu estivesse preso.
T – Preso de que maneira sente isso?
P – Eu não queria pensar dessa forma, não queria pensar desse jeito.
T – De que jeito?
P – “Queria brincar e não ver ele é como se eu fosse o único que vê ele”.
T – E como se sente?
P – Fico angustiado, meu corpo fica pesado, estou tenso, tenho que esconder isso.
T – E você esconde sim ou não?
P – Sim.
T – De que maneira?
P – Eu faço de conta que não vejo, é como se eu caísse num buraco fundo, só eu posso sair dali.
T – E você sai sim ou não, continue.
P – Acaba o intervalo, volto para a classe tento esquecer.
T – OK volte um pouco mais, retorne para o momento de sua concepção.
P – Me sinto tranqüilo.
T – Então avance até 3º mês da gestação de sua mãe.
P – Tranqüilo.
T – Do 3º ao 6º mês de gestação?
P – Estou ansioso, mãe está bem.
T – Por qual motivo se sente ansioso, o que está correndo.
P – Nada, acho que é a proximidade do nascimento.
T – Do 6º a 9º mês?
P – OK
T – Então vá para o momento do parto do seu nascimento, e vivencie.
P – Sensação diferente, é como se estivesse chegado à hora, me pegam no colo, me sinto muito frágil.
T – Vivencie esta sensação de fragilidade, e perceba que pensamentos lhe vêm à mente neste momento em que se sente frágil?
P – As pessoas são grandes, eu sou tão pequeno, queria mudar isso.
T – De que maneira queria mudar isso?
P – Não sei, mais percebo que hoje me sinto inseguro por isso.
T – Como assim?
P – É percebo que em determinadas situações, onde me sinto numa posição mais frágil, eu fico inseguro e quero mudar a situação mais não encontro essa resposta.
T – Continue, até 10 anos, perceba se existe algo relacionado ao tema para ser vivenciado, sim ou não?
P – Não só o que já vivenciei.
T – Ok , continue de 10 a 20 anos, algo mais?
P – Sim estou com 16 anos, sinto muita dificuldade de me expressar estou com meus primos eles querem brincar, eu não,  fico vendo as estrelas pensando como a vida é ampla, eles não me dão atenção, tento levar minhas idéias mais não me compreende.
T – Como se sente?
P – Muito triste e humilhado.
T – Então vivencie essa tristeza e humilhação. Que pensamentos lhe vêm à mente?
P – Que não devo desistir.
T – Ok avance dos 20 até hoje.
P – OK
T – Então de tudo o que vivenciou aqui, qual o momento mais traumático.
P – O do menino do pátio.
T – Então volte e vivencie novamente, este momento.
P – É como se eu pudesse melhorá-lo. Sinto que poderia torná-lo mais feliz, mais me sinto impedido porque sou criança e não sou ouvido. Eu caio num buraco e sinto que há um abismo muito grande entre as pessoas. Eu me deixo cair, não tem como lutar.
T – Como é para você, cair nesse buraco?
P – É me isolar não vou lutar nem demonstrar nada desisto.
T – Qual a relação desse momento com o tema que está trabalhando, que é a dificuldade de demonstrar seus sentimentos.
P – Acho que até hoje me sinto frágil, criança, e nas situações de pressão eu fujo para não demonstrar o que sinto, eu tento medo de me expor  não ser compreendido.
T – E você quer mudar isso sim ou não?
P – Quero
T – Então elabore uma frase de redecisão.

Redecisão

“Assumo o meu trabalho mesmo diante de obstáculos, me exponho e me sinto tranquilo”.

Algumas sessões integrativas

14/12/1998

O paciente informa que vida social se sentiu mais solto e que na escrita também melhorou não tendo mais receio de colocar as suas idéias.

19/03/1999

“Percebo mudanças grandes e positivas em mim, estou agindo e não sendo passivo como antes, coloco em prática o que pretendo.
O relacionamento em casa também mudou muito principalmente com minha mãe, mudou para melhor”.
O paciente colocou em prática, vários objetivos que possuía mais se sentia incapaz, dentre eles entrou na Faculdade, no momento está cursando o 2º semestre do curso de Psicologia.

São Paulo 19 de setembro de 1999.